Sunday, April 04, 2004



O PESO DOS PARALELEPÍPEDOS PRATEADOS SOB A NOITE SEM FIM

Quando chego em Alagoinhas o cheiro da Magia sempre descortina,
O passado baixa como santo,
Fico possuido pela Legião:
A casa da menina que agora trabalha no caixa do G Barbosa
E nos deu geladinhos muito ruins para chupar,
As ruas com cheiro de bosta,
Os labirintos & o barro que eu fazia formas,
As horas com a mochila nas costas,
Um galo e suas esporas em Aporá,
A casa do metaleiro que dormia numa cama muito suja,
Escura como a noite & o heavy metal
(eu possuido pela Legião)...

Quando chego na rodoviário minha alma volta para o lugar:
A empresa que estagiei e só tinha dementes lá,
Passava a manhã sem dar um pio & sem graça:
-Dinheiro no bolso que é bom, nada!
A rua asfaltada na Inocoop que um dia baixou polícia
& todos os marginais se esconderam atrás de postes.
Todas as casas tem um passado,
A casa em Alagoinhas Velha que eu ia a tarde tomar banca
E era como fazer um viagem para um outro planeta,
De bicicleta,
As árvores de galhos finos e frutos coloridos,
A ruína da igreja é a alma da cidade inacabada,
Alma ferida & pela metade.
As barracas de fogos ficam ao lado da rodoviária, longe do
centro da cidade, por precaução contra incêndios,
E em São João sempre fazia o rol dos fogos que ia comprar:
Adrianinos, bombas, Foguetinhos, busca-pés, etc.
Os desenhos de índios nas embalagens, as cores & as verdades,
O fogo eterno nas fogueiras queimando todos os anos sobre a terra,
Eu ainda novo esperando o meu Esperma,
Depois o gosto do vinho, da uva lavando o medo, molhando o chão,
Flores nascendo nas casas de luz vermelha,
Cannabis Sativa Alimentando os perdidos, querendo sair desse mundo
claustrofóbico das mentiras da Tv, que chegam aqui nesse fim de mundo
como palavras santas do Grande Irmão, como verdades eternas
vindas dos deuses que criaram a terra
(em suas naves prateadas & suas chuvas de Esperma).
Humúnculos nascendo das costelas,
A bíblia aberta sobre a perna:
O sonho de Ezequiel diz tudo, ali eu vi a verdade/mentira do mundo.
Os círculos coloridos baixando sobre meu corpo
(legião, legião).

Da rodoviária da cidade eu vejo tudo:
O campo de futebol que eu tive que carregar as traves pesadas
como Atlás carregando mundo, só porque não tava afins de jogar.
A banca de revista que era como um sonho & pouco dinheiro,
Vejo até a edição de Flash Gordon com pranchas em tamanhos originais,
Vejo os livros empoeiradas, o dono que eu sempre achei que fosse um judeu,
A atendente que sempre estava tossindo por causa da poeira.

Da rodoviária da cidade eu vejo meu mundo:
A loja de discos Colméia que eu comprei um LP do Slade,
A feira com seus Licuris, cajus, caranguejos, jacas, porcos, vacas,
A igreja Matriz com um galo de prato no alto,
O Anexo & todos os loucos nús, A verdade que eu nunca vi,
As meninas que conversam como hamisters em suas jaulas de vidro,
Aquários partido mas nunca quebrado,
Peixinhos coloridos e lindos dentro da claustrofobía da cidade linda.

Da rodoviária da cidade da para ver tudo:
Os gritos mudos,
Palavras em muros,
Facadas & murros,
Sujeira & entulho.

A cidade é como um surdo,
Tocando todo o tempo em minha cabeça, onde quer que eu esteja,
Como as bandas marciais dos desfiles na praça Rui barbosa
(Rui Barbosa foi um burro).

a cidade é um jegue rinchando no escuro,
Uma espingarda de chumbo,
Um desalinho.

A linha de trem que cruza o subúrbio de meu corpo,
A cicatriz que eu carrega embaixo do braço,que nasceu do
Que nasceu do muro que devide o real do imaginado,
A cidade mora comigo,
eu nunca vive aqui porque sempre estive no outro mundo.

A cidade é tão real porque nunca esteve aqui,
Carrego dentro de mim todos os paralelepípedos carmim,
O peso da pedra & da melancolia sem fim.

d..b
2004





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